segunda-feira, 28 de junho de 2010

A criança, a morte e o luto

O texto que segue abaixo foi extraído do site da Revista  Nova Escola. Ele trata sobre as perdas da criança e o contexto escolar, porém é muito importante que pais e familiares tenham conhecimento sobre como lidar com o luto de seus filhos, principalmente porque é impossível poupá-los de todas as perdas que acontecem no decorrer dos anos.
É importante que a criança passe por alguns "lutos" para que na adolescência e vida adulta consiga superar bem suas dores.
Temos conosco um desejo imenso de impedir que nossos queridos passem por qualquer forma de dor, porém elas nos tornam pessoas mais maduras e melhores.
O fundamental para lidar com a perda e a dor é a verdade : não mentir, não inventar histórias mirabolantes e nem tentar compensar um sofrimento autêntico...
Bom, chega de rodeios... vamos ler o texto!!
Boa leitura!!

Cinco pontos para abordar a morte em sala de aula


Acolher as inquietações de cada um e responder às dúvidas com explicações verdadeiras é um caminho para auxiliar a superar uma perda
 
 
 
 
 
TERMINA A VIDA. O QUE VEM DEPOIS?



Quem enfrenta a tristeza de uma morte vivencia o luto até a perda ser aceita. Para auxiliar a enfrentar essa fase, é preciso falar com sinceridade. Respostas fantasiosas tendem a prolongar o sofrimento.

Ilustrações: Eduardo Recife
 
"É uma coisa curiosa a morte (...). Todos nós sabemos que o nosso tempo neste mundo é limitado e que eventualmente todos nós acabaremos embaixo de algum lençol para nunca mais despertar. E, no entanto, é sempre uma surpresa quando isso acontece com alguém que conhecemos." Reflita por alguns instantes sobre como você se sentiu ao ler essa citação do autor infanto-juvenil Lemony Snicket, no livro Raiz-Forte. Quais sentimentos preveleceram: medo? Resignação? Indignação? Identificação? A resposta depende da maneira como cada um lidou (e lida) com as inevitáveis perdas que a vida nos traz - a de um amigo que se mudou para longe, o desaparecimento de um animal de estimação ou a morte de um parente querido. Sempre que um desses eventos ocorre, passamos pela chamada elaboração do luto - um processo psicológico que atinge o indivíduo, sua família e os grupos da sociedade dos quais ele participa, um período doloroso (e necessário) de intensa tristeza, que dura até que a pessoa aceite a perda e possa seguir em frente com a vida.



Embora as crianças (sobretudo as mais novas) ainda não compreendam inteiramente a ideia de morte, o assunto deve ser discutido na escola para que elas tenham a oportunidade de trocar opiniões com os colegas e também encontrar apoio para encarar o sofrimento. A origem da crise, em geral, se dá com a morte de um familiar ou de uma pessoa próxima, mas também pode ocorrer em casos como a separação dos pais, a morte de uma personalidade famosa e até de uma mudança brusca, como a troca de cidade ou de escola. Todas essas situações geram dificuldades para as crianças. Como o comportamento das pessoas ao redor interfere no enfrentamento das perdas, uma intervenção adequada no momento certo é de grande importância, podendo ajudar no encaminhamento do luto e no restabelecimento das condições emocionais dos pequenos.



Para os estudiosos do tema, o principal requisito para uma atuação eficaz é se apoiar na verdade. Afinal, uma informação distorcida pode interferir na conscientização da perda e na sua aceitação. "A morte faz parte do processo da vida. Contar uma mentira, dizer que a pessoa foi viajar, que virou estrela ou qualquer outra resposta evasiva só irá prolongar o sofrimento. Quando se deparar com a verdade, a criança se sentirá enganada e a relação de confiança será quebrada", explica Valéria Tinoco, supervisora do Instituto de Psicologia 4 Estações, em São Paulo.


VAI-SE O LUTO, FICAM AS LEMBRANÇAS

Passado o período de intensa tristeza, a criança não esquece o que ocorreu. A perda continua sendo uma lembrança muitas vezes dolorosa, mas já não a impede de tocar a vida em frente.

Isso, entretanto, não significa que a discussão do tema na escola seja simples. Para ajudar a lidar com a situação, é preciso levar em conta diversos fatores, que dizem respeito principalmente à fase de desenvolvimento em que cada criança se encontra e ao ambiente que a cerca. Abaixo, você confere cinco pontos essenciais que devem ser considerados na hora de abordar a morte com suas turmas.

1. Respeitar as escolhas da família e da criança

"Mamãe foi morar com papai do céu", "Totó foi para o paraíso dos cachorrinhos", "Vovô está vivo em uma outra dimensão". É normal que as crianças apresentem explicações para a morte baseadas na religiosidade, nas crenças e e na cultura da família. Você, professor, deve aceitar a argumentação, mas, se for indagado sobre o ocorrido, seu papel é responder da maneira mais objetiva - não custa lembrar que a ideia é ajudar o pequeno a se conscientizar da perda (leia o quadro abaixo). "Por mais que seja difícil, é preciso mostrar a morte como algo inevitável", observa Maria Júlia Kovács, professora de Psicologia da Morte no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

Essa postura deve ser explicitada nas conversas com os pais - nesses encontros, aliás, é preciso considerar que os próprios familiares, fragilizados, apresentem dificuldade em lidar com a questão. "Como a criança passa grande parte do dia no ambiente escolar, é importante que ali ela encontre respostas que talvez não apareçam num primeiro momento em casa, por estarem todos abalados", comenta Valéria. A escola deve se aproximar, oferecer ajuda e, se preciso, buscar o auxílio de profissionais de Psicologia.

2. Considerar a faixa etária de cada aluno

Desde pequena, a criança já entende a ideia da morte - o que muda ao longo dos anos é a concepção dela sobre a perda. Até os 5 anos, a criança considera a morte reversível. Depois, começa a entender a finitude, mas ainda não a concebe como universal - acha que ela não pode vir para alguém jovem, por exemplo. "É somente por volta dos 10 anos que passamos a compreender a morte com mais clareza", explica Maria Júlia. Nesse sentido, a participação em rituais como velórios e enterros, ainda que dolorosa, é importante para auxiliar na complexa construção do que significa a morte (leia o quadro abaixo). Mostrar a dimensão cultural da morte



A perda de um bichinho de estimação também é uma maneira de educar uma criança para a morte e o luto. "Emocionalmente, o impacto é menor do que perder a mãe, por exemplo, mas pode ser maior do que a morte de um parente distante. O luto da criança pela perda de um animal deve ser respeitado da mesma maneira", observa Valéria. No início do ano, os educadores da Creche Central da USP, na capital paulista, se viram diante de uma situação como essa e precisaram alterar a programação das atividades para se voltar a um fato que mobilizou todas as crianças: um jabuti que vivia no local morreu e com isso surgiram perguntas e inquietações por todos os lados. Depois de esclarecer os fatos, a escolha foi elaborar um trabalho para que a morte fosse aceita e compreendida. "Fizemos uma assembleia com todos para decidir o destino do corpo. Por fim, com o consentimento de todos, realizamos uma cerimônia simbólica, seguida do enterro", conta o coordenador Rodrigo Flauzino. Para ele, o importante era que os pequenos não só lidassem com a morte mas também participassem do ritual para compreender sua dimensão cultural.

3. Buscar um interlocutor próximo ao estudante

É importante que, quando a escola fica incumbida de contar sobre uma morte ou conversar sobre ela com o aluno, o diálogo seja estabelecido com alguém em quem confie e que dê a ele abertura para falar, questionar e até pedir apoio emocional. "Imagine que sensação horrível ele teria ao receber uma notícia ruim de um desconhecido ou de alguém com que teve pouco contato", diz Valéria.

4. Trabalhar a questão com a classe

A relação com a turma nesse momento é importante para ajudar no acolhimento do estudante. "Quando um aluno vive a perda significativa de alguém, é comum que os colegas se abatam também, pois acabam se identificando. Compreender o que está se passando com a classe e com a criança enlutada é necessário para auxiliar o professor a lidar com a dinâmica da sala", afirma Solange Capaverde, coordenadora do Projeto Solverde, da Universidade Federal de Santa Maria (UFS). Um dos caminhos é proporcionar debates sobre o tema. Vale orientar a classe e explicar o que o colega está vivendo e, quando ele retornar à escola, proporcionar situações em que possa falar e também ouvir opiniões e histórias dos outros alunos. Filmes e contos podem ser usados como porta de entrada para explorar a morte e o luto. Porém, antes de propor qualquer atividade, é importante saber se a criança enlutada está disposta a se abrir e a falar sobre isso.

5. Minimizar os efeitos do luto no aprendizado

Na medida do possível, é importante atentar para que o desempenho escolar do aluno não seja muito prejudicado pelo pesar. "O educador precisa saber que, logo após a morte, a criança pode não produzir como antes. Nos dias que seguem, é importante conversar para encontrar a melhor maneira de ele não perder o conteúdo", afirma Maria Júlia. Vale explicar quais atividades vão ser feitas e ouvir a opinião do aluno para saber se ele tem condições de desempenhá-las. O correto é sempre oferecer uma alternativa - o que não pode ocorrer é deixá-lo de lado (leia o quadro abaixo). "É comum que crianças reajam de maneiras diversas. O choro não é o único modo de manifestar o sentimento de perda. Às vezes, elas têm sonolência, dificuldade de concentração e desinteresse, entre outros comportamentos. Todos são maneiras de mostrar que a situação não é fácil", explica Valéria.



Pode ser que demore algum tempo, mas o fato é que o luto, quando bem elaborado, passa. Ao perceber-se acolhida, a criança amadurece com mais facilidade a ideia da perda e, aos poucos, volta à rotina. Claro que podem ocorrer recaídas. Passado certo tempo após a elaboração do luto, é comum que ela relembre a morte e retome alguns sentimentos de tristeza intensa. Essa situação pode ser mais ou menos marcante, de acordo com a superação do luto. Em todos os casos, o trabalho em conjunto com a família ajuda a superar a crise com mais facilidade, principalmente quando envolve crianças muito pequenas.


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